quinta-feira, 7 de abril de 2016

"ESTRATÉGIA DE GÊNIO."



Eu não estou bem, ou melhor, não estou nada bem.
Agora, se eu não estou bem, é problema exclusivamente meu não tenho que dar satisfação para ninguém, mas serei gentil, soltarei para o público o motivo de não estar bem, ou seja, devido uma estratégia errada.
Fiquei ciente através da leitura que muitos empresários ganharam muito dinheiro, nos tempos de vacas magras, sabendo tirar proveito da crise.
Não pensei duas vezes e coloquei a massa cinzenta para trabalhar, surgindo ideias geniais.
Admiro os terráqueos, dentre os quais, saliento dois povos que tenho grande admiração, ou seja: o povo alemão e o povo japonês.
Eis a ideia genial: transformar-me em alemão, depois em japonês, para dar atendimento na minha megaloja (21m2), pois o meu visual já está muito manjado.
Apresentação em alemão: comprei uma lata de tinta, a base de água, bem ordinária. O que é uma tinta a base de água ordinária? É aquela que quando você coloca água para misturar, a tinta desaparece e só fica a água.
Você tem que usar um produto desta maneira para facilitar a limpeza de seu corpo.
Achei a tinta muito amarela, mas vai assim mesmo.
Pintei o cabelo, as sobrancelhas, cílios e bigode.
Quando me desloquei do banheiro, deparei-me com a minha mulher, a qual caiu de joelho e desesperada falou: vou ligar para o meu filho, a fim de levar você para o Pinel.
Calma mulher! Calma! Trata-se de uma estratégia genial para ganharmos muito dinheiro.
Hoje, farei o atendimento como se fosse um alemão.
- Alemão?
Você está parecendo diarreia de criança!
Desde jeito você acaba com tudo, antes de começar.
Cabe aqui uma observação à mulherada: não case com gênio, por favor, é muito complicado, vejam o meu caso, uma atrapalhada absoluta.
Já com a megaloja (21m2) aberta, eis a reação da clientela.
- Bom dia!
- Bom dia!
- Nossa! Você está parecendo um elemento com icterícia?
Você não pode atender,
Tchau! To me mandando.
- Icterícia!
Outro;
- Bom dia!
-Bom dia!
- Que engraçado, você parece uma ova de tainha!
- Ova de tainha!
Outra.
- Bom dia!
- Bom dia!
- Não tem o que tirar de uma espiga de milho, coisa horrível!
- Espiga de milho!
Outro.
- Bom dia!
- Bom dia!
Cara! Vai te lavar, você está parecendo um jacaré de papo amarelo, cria vergonha bicho.
- Jacaré de papo amarelo!
Outra.
- Meu canarinho Belga, meu canarinho Belga, me deixa dar-lhe um abraço bem apertado, adoro canarinho Belga, coisinha bonitinha.
- Sai de mim, sai de mim velha assanhada, vai baixar noutro centro.
Canarinho Belga! Este apelido pode pegar heim?
Vai lá à loja do canarinho Belga que o mesmo tem este produto!!!!!
Material para Construção Canarinho Belga Ltda., bom, muito bom.
A velha assanhada deu-me uma boa sugestão.
A gente que tem charme é problema, mesmo camuflado o charme não desaparece, a velha ficou doidinha.
Outro.
- Bom dia!
-Bom dia!
- Olhei para você e a minha mente voltou aos bons tempos; tempo que eu morava no sítio, quando a minha saudosa mãe fazia aqueles pães de milho, cor amarelada que nem a suja cor.
- Pão de milho!
A estratégia não deu muito certa, ninguém me achou parecido com um verdadeiro alemão.
Alguma coisa saiu errado.
Já sei o erro, chama-se precipitação, fiz a coisa errada.
O certo seria visitar algumas cidades com influência alemã, conviver com os mesmos, sentir suas maneiras de agir, para depois fazer-se passar por alemão.

Aqui no Paraná tem uma cidade com influência alemã, chama-se Marechal Cândido Rondon, depois irei para Santa Catarina, passando pelas cidades Guaramirim, Jaraguá do Sul, Pomerode, Blumenau, Brusque, Indaial e Rio do Sul.
O problema é chegar aos restaurantes e pedir o prato, tenho a língua pesada para falar em outras línguas.
Como é que eu vou solicitar: Apfelstruld, Eintopf, Kasespatzle, Kartoffelpuffer, Grutze rote, Wurst.
Só em olhar para as palavras já me dá um calafrio; estou inventando moda para morrer de fome.
Como sofremos nós os itajaienses fora de nossa Cidade.
Creio que o erro estava na cor da tinta, muita amarelada.
Outro porém, transformar um Catarina num alemão não é nada fácil.
Agora, transformar-me num japonês já é um pouco mais fácil.
Apanhei aquele bastão da minha nora, que a mulherada passa nos cílios e sobrancelhas, e repuxo os meus olhos.
Os caras tem o cabelo bem preto, todavia, coloco um boné e pinto de preto, também com aquele bastão da mulherada, apenas as costeletas. Não esquecendo o bigode.
Problemas: japonês não usa bigode e nem boné.
Se não usavam lancei a moda pronto, japonês com bigode e boné, e não me venham com churumelas.
Minha mulher foi para o centro da cidade, já estou transformado, vou para megaloja (21m2).
Lá vem o primeiro cliente.
- Tudo legal?
- Tudo legal!
- Você faz parte da tribo Xavante ou ficou louco?
- Xavantes!
Outra.
- Olá!
-Olá!
O que é isto? Perdeu a vergonha e pintou os olhos? Logo você que eu tanto elogiava para a vizinhança, achando um elemento moralista, sério, confiante, agora, depois de velho, virou a casaca?
Vou embora, não suporto este tipo de coisa.
- A dona acabou comigo, sou apenas um japonês, ora bolas!
Outro.
-Tudo na paz?
- Tudo na paz?
Vai fechar a bodega?
- Eu não!
- Achei que arranjou um emprego, pois está vestido de palhaço; vai criar vergonha na cara, isto é apenas ridículo.
Outra.
- KKKK KKKK KKKK KKKK, você está parecendo um rato da Índia; o Pinel é no outro lado da rua, uma palhaçada sem graça, vai-te catar, não entro mais aqui.
- Rato da Índia!
Outro.
- Como vão as coisas?
- Vai indo devagar e sempre.
- Olhando para você, só falta a tanga e apito, para se transformar num índio babaca de cidade.
- Índio babaca de cidade!
Não deu certo, creio que o japonês foi pior que o alemão, não quero mais saber de transformação, chega de passar vergonha.
A gente só quer uma coisa, aumentar o movimento da loja, porém, não adianta, não tem como calar a língua do povo.
Encararei a situação com a cara que eu tenho, farei que nem o caso de Fênix, e nada mais.
Você sabe o que Fênix?
Sabe nada, um impermeável, tenho que detalhar nos mínimos detalhes.
Fênix é um pássaro lendário da mitologia grega (no fundo, no fundo, e da mitologia itajaiense, porém não quero controvérsia) que após viver 300 anos, supostamente se deixava arder em um braseiro para em seguida renascer das próprias cinzas.
Tenho certa semelhança com Fênix, a saber:
Faz hora que estou ardendo, falta apenas a cinza para renascer.
Tocarei fogo em lenha na churrasqueira para formar um montão de cinza, pulo dentro da mesma e espero renascer. Agora estou entendo por que a coisa não vai, faltava a cinza.
Falo para a família: desejo viver 115 anos; 100 anos trabalharei, mas os últimos 15 anos quero viver, ou seja, tenho três filhos (dois filhos e uma filha) e viverei sem fazer absolutamente nada, 5 anos na casa de cada filho.
Viverei 115 anos, desde que Deus autorize, e Ele vai autorizar.
Sopraram para mim que quem usa boné e italiano e não japonês. Já falei agora japonês vai usar boné, e fim de papo.
Mais um bicão dando patada: você não se saiu bem como alemão nem como japonês, devido o sotaque.
Tentei, tentei ninguém pode falar que não estou tentando, apenas, não estou levando o fator sorte.
Como sofremos, nós, os itajaienses, que não temos caras de alemão nem de japonês.
Não me sai da cabeça a ideia de ser um alemão e depois um japonês; já tomei uma atitude certa, morarei um ano em Santa Catarina, lá em qualquer canto se acha um alemão; um ano em Assai, norte do Paraná e um ano em Registro – São Paulo, e fim de papo.
Sinceramente falando, não estou gostando de ser gênio, a gente enche os miolos de ideias, colocam-se em práticas, todavia, não dão resultados?
Creio que não há necessidade de registrar que Assai e registro, são colônias de japoneses, né?
Abraços do
Catarina Paranaense – nem alemão, nem japonês, infelizmente.

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