A arte de fotografar, atualmente, ficou muito mecânica, no
campo do amadorismo, evidentemente.
Tira a foto, não gostou, deleta, tira novamente, sem
qualquer tipo de graça.
Perdeu-se a emoção, a apreensão e afins.
No tempo que eu, ainda, era gente, a coisa era totalmente
diferente, tinha-se satisfação em tirar fotografias.
Eu tinha uma joia, uma máquina fotográfica, denominada Rio
400, pendurada no pescoço, parecia uma verdadeira medalha de ouro.
A arte já começava pela aquisição do filme, ou seja, 12, 24
ou 36 poses, de acordo com o bolso do freguês.
Já com o filme em mãos, tinha que achar um local apropriado,
para abastecer a joia, ou seja, colocar o filme na máquina; sendo necessário um
lugar, totalmente escuro, para a devida operação.
Agora sim, totalmente abastecido, era só achar a situação,
para registrar os momentos inesquecíveis.
Nos meus bons tempos de funcionário de uma Empresa de Grande
Porte, fui destinado, a fazer uma implantação, na Filial de Salvador, capital
dos baianos.
Já em Salvador, na hora do almoço, num restaurante, com comida
típica da região, observei a sacada do mesmo, um lugar fora de sério, vista
para o mar, rodeada de vasos com folhagens diversas, da região.
Já com o estômago abastecido, apanhei um palito (coisa de
babaca) e me dirigir, para a referida sacada.
Sentado numa cadeira de vime, achei o local excelente para
tirar uma fotografia, contudo, era necessária outra pessoa para realizar o
processo. Notei a vinda de um casalzinho de pombo, beijinho prá cá, beijinho
prá lá, meu coquinho baiano, minha doce baianinha, e o escambau. Entrei no
romance dos dois, e solicitei os préstimos dos mesmos, no sentido de tirar a
fotografia do degas. Sugeri uma moldura na foto, ou seja, os vasos com
folhagens. Atendido, os pombinhos continuaram o seu romance.
Aí, já começa a emoção com apreensão, será que a foto ficou
boa, poderei mostrar para os demais, o degas, em Salvador? (Mais uma
babaquice).
Após, usado todo o filme, já de regresso à Curitiba, a
urgência, em levar o filme, para ser revelado.
A curiosidade, a apreensão, tomava conta da gente, será que
o filme queimou? Será que queimou alguma foto? Como ficaram as fotografias? E,
assim, por diante.
Mais emoções, ou seja, apanhar as fotografias e verificar
tais situações.
No caso da minha foto na sacada do restaurante, fui sacaneado,
o pombinho, tirou, apenas, a foto do vaso com folhagem, descartando,
propositadamente, o degas.
Com as fotos em mãos, vinha o arquivo das mesmas, colocar em
álbuns, destinados para tais.
Eu tinha três tipos de álbuns, a saber: Um tinha às folhas
com colas, bastava passar água, a mesma ficava ativa para receber às
fotografias. Eu para ativá-las, passava a língua.
Outro, a sistemática de colagem, já era diferente, você distribuía
às fotos a seu gosto, depois, o álbum, apresentava uma folha leve, que pressionada
sobre as fotos, prendia às mesmas.
Último, bastante simples, passava-se grude, cola, na parte
anterior da foto, e colava a mesma na folha do álbum.
Esporadicamente, faço uso de meus álbuns, relembrando os
bons momentos registrados.
Num certo dia, olhando meus álbuns, deparei-me com uma foto
do degas, com 20 anos de idade. Fiquei em posição de sentido, pois, não se
tratava de uma foto comum, todavia, uma obra prima da natureza, sem qualquer
tipo de retoque. Olhei atentamente e falei comigo, será minha foto? A cabeça já
funcionou com a seguinte sugestão: Montar na megaloja (21m2), um tipo de
provador de roupas, existentes nas
lojas, colocar a referida foto num pedestal e na parte externa, uma placa:
Visite uma das maravilhas do mundo, preço: Cincão por cabeça.
Logo em seguida, deparei-me com minha foto atual, um
verdadeiro desastre, to acabado.
Coloquei uma ao lado da outra e me perguntei: será, mesmo, a
mesma pessoa?
Pensei, solicitarei uma opinião da dona Maria das Dores, a
mulher é boa de crítica, e não tem papo na língua.
- Bom dia! Bom dia! Bom dia!
- Dona Maria! Caiu do céu!
Necessito de seu parecer, é possível?
Fala meu garoto, que eu te atendo.
- Dona Maria! Vide esta foto!
- Santo Deus! É
possível fornecer o endereço da padaria que fez este pão?
- Tá no endereço!
- O quê?
Vai-me dizer que é você?
- Sim senhora, em carne e osso.
- Tá febril, tá delirando, não é possível!
- Veja esta outra.
- Quem é o bofe?
- O bofe é a sua vovó, a foto é minha.
- Você pode me emprestar esta foto?
- Para quê?
- O meu velho pai mora no interior do Paraná, está tendo
problemas com pragas em sua lavoura e não sabe o que fazer. Já achei a solução,
vou ampliar esta sua foto e colocar no meio da lavoura,como se fosse um espantalho,
duvido que chegue mais alguma praga de insetos.
- A senhora tá se achando, tem alguma foto?
- Tá na mão, veja que doçura.
- Se meu saudoso pai fosse vivo, daria uma excelente
definição para esta foto, ou seja, uma briga de foice no escuro.
- Quem desdenha quer comprar, OK?
Veja o jogo de quadris da degas, o rebolado invejável,
gostou?
- Um carro de boi subindo um morro.
- Chega de ver fantasmas, fui, tchau!
- Bofe, espantalho, fantasma, essa sirigaita acabou comigo.
Vou até o espelho, tentar chegar numa conclusão.
Numa mão, a obra prima, eu, aos vinte anos, na outra mão a foto atual e o reflexo no espelho.
Para ser sincero, a do espelho, ainda, está pior, to acabado.
O quê foi? Alguma graça? Já se olhou no espelho?
Prá cá com essa, sai do meu pé jacaré.
Abraços do
Catarina Paranaense – o bofe. Quê bofe? A Obra prima da
natureza.
PS. FICA SEMPRE UM POUCO DE PERFUME NAS MÃOS DE QUEM OFERECE
ROSAS.