domingo, 30 de outubro de 2016

"A ARTE DE FOTOGRAFAR."



A arte de fotografar, atualmente, ficou muito mecânica, no campo do amadorismo, evidentemente.
Tira a foto, não gostou, deleta, tira novamente, sem qualquer tipo de graça.
Perdeu-se a emoção, a apreensão e afins.
No tempo que eu, ainda, era gente, a coisa era totalmente diferente, tinha-se satisfação em tirar fotografias.
Eu tinha uma joia, uma máquina fotográfica, denominada Rio 400, pendurada no pescoço, parecia uma verdadeira medalha de ouro.
A arte já começava pela aquisição do filme, ou seja, 12, 24 ou 36 poses, de acordo com o bolso do freguês.
Já com o filme em mãos, tinha que achar um local apropriado, para abastecer a joia, ou seja, colocar o filme na máquina; sendo necessário um lugar, totalmente escuro, para a devida operação.
Agora sim, totalmente abastecido, era só achar a situação, para registrar os momentos inesquecíveis.
Nos meus bons tempos de funcionário de uma Empresa de Grande Porte, fui destinado, a fazer uma implantação, na Filial de Salvador, capital dos baianos.
Já em Salvador, na hora do almoço, num restaurante, com comida típica da região, observei a sacada do mesmo, um lugar fora de sério, vista para o mar, rodeada de vasos com folhagens diversas, da região.
Já com o estômago abastecido, apanhei um palito (coisa de babaca) e me dirigir, para a referida sacada.
Sentado numa cadeira de vime, achei o local excelente para tirar uma fotografia, contudo, era necessária outra pessoa para realizar o processo. Notei a vinda de um casalzinho de pombo, beijinho prá cá, beijinho prá lá, meu coquinho baiano, minha doce baianinha, e o escambau. Entrei no romance dos dois, e solicitei os préstimos dos mesmos, no sentido de tirar a fotografia do degas. Sugeri uma moldura na foto, ou seja, os vasos com folhagens. Atendido, os pombinhos continuaram o seu romance.
Aí, já começa a emoção com apreensão, será que a foto ficou boa, poderei mostrar para os demais, o degas, em Salvador? (Mais uma babaquice).
Após, usado todo o filme, já de regresso à Curitiba, a urgência, em levar o filme, para ser revelado.
A curiosidade, a apreensão, tomava conta da gente, será que o filme queimou? Será que queimou alguma foto? Como ficaram as fotografias? E, assim, por diante.
Mais emoções, ou seja, apanhar as fotografias e verificar tais situações.
No caso da minha foto na sacada do restaurante, fui sacaneado, o pombinho, tirou, apenas, a foto do vaso com folhagem, descartando, propositadamente, o degas.
Com as fotos em mãos, vinha o arquivo das mesmas, colocar em álbuns, destinados para tais.
Eu tinha três tipos de álbuns, a saber: Um tinha às folhas com colas, bastava passar água, a mesma ficava ativa para receber às fotografias. Eu para ativá-las, passava a língua.
Outro, a sistemática de colagem, já era diferente, você distribuía às fotos a seu gosto, depois, o álbum, apresentava uma folha leve, que pressionada sobre as fotos, prendia às mesmas.
Último, bastante simples, passava-se grude, cola, na parte anterior da foto, e colava a mesma na folha do álbum.
Esporadicamente, faço uso de meus álbuns, relembrando os bons momentos registrados.
Num certo dia, olhando meus álbuns, deparei-me com uma foto do degas, com 20 anos de idade. Fiquei em posição de sentido, pois, não se tratava de uma foto comum, todavia, uma obra prima da natureza, sem qualquer tipo de retoque. Olhei atentamente e falei comigo, será minha foto? A cabeça já funcionou com a seguinte sugestão: Montar na megaloja (21m2), um tipo de provador de roupas, existentes  nas lojas, colocar a referida foto num pedestal e na parte externa, uma placa: Visite uma das maravilhas do mundo, preço: Cincão por cabeça.
Logo em seguida, deparei-me com minha foto atual, um verdadeiro desastre, to acabado.
Coloquei uma ao lado da outra e me perguntei: será, mesmo, a mesma pessoa?
Pensei, solicitarei uma opinião da dona Maria das Dores, a mulher é boa de crítica, e não tem papo na língua.
- Bom dia! Bom dia! Bom dia!
- Dona Maria! Caiu do céu!
Necessito de seu parecer, é possível?
Fala meu garoto, que eu te atendo.
- Dona Maria! Vide esta foto!
- Santo Deus!  É possível fornecer o endereço da padaria que fez este pão?
- Tá no endereço!
- O quê?
Vai-me dizer que é você?
- Sim senhora, em carne e osso.
- Tá febril, tá delirando, não é possível!
- Veja esta outra.
- Quem é o bofe?
- O bofe é a sua vovó, a foto é minha.
- Você pode me emprestar esta foto?
- Para quê?
- O meu velho pai mora no interior do Paraná, está tendo problemas com pragas em sua lavoura e não sabe o que fazer. Já achei a solução, vou ampliar esta sua foto e colocar no meio da lavoura,como se fosse um espantalho, duvido que chegue mais alguma praga de insetos.
- A senhora tá se achando, tem alguma foto?
- Tá na mão, veja que doçura.
- Se meu saudoso pai fosse vivo, daria uma excelente definição para esta foto, ou seja, uma briga de foice no escuro.
- Quem desdenha quer comprar, OK?
Veja o jogo de quadris da degas, o rebolado invejável, gostou?
- Um carro de boi subindo um morro.
- Chega de ver fantasmas, fui, tchau!
- Bofe, espantalho, fantasma, essa sirigaita acabou comigo.
Vou até o espelho, tentar chegar numa conclusão.
Numa mão, a obra prima, eu, aos vinte anos, na outra  mão a foto atual e o reflexo no espelho.
Para ser sincero, a do espelho, ainda, está pior, to acabado.
O quê foi? Alguma graça? Já se olhou no espelho?
Prá cá com essa, sai do meu pé jacaré.
Abraços do
Catarina Paranaense – o bofe. Quê bofe? A Obra prima da natureza.

PS. FICA SEMPRE UM POUCO DE PERFUME NAS MÃOS DE QUEM OFERECE ROSAS.

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