Hoje, recebi o meu cartão de débito, em substituição ao
atual, que vencerá em junho do ano em curso.
É todo dourado, com molduras em amarelo ouro, uma verdadeira
pintura.
Me engana que eu gosto, me engana que eu gosto.
Se existe uma isca que as Entidades Financeiras jogaram para
o povo e deu muito certo, foram os cartões de crédito e/ ou débito, sem sombras
de dúvidas.
O povo abocanhou sem contestar.
Além de ser de uso prático, o mesmo tem um fundo
psicológico. É! Um fundo psicológico.
Sabemos perfeitamente que o ser humano tem uma sensação de
satisfação quando recebe dinheiro e, uma sensação de tristeza quando tem que
desembolsar um dinheiro, é a pura natureza.
Exemplo prático: Todos os domingos minha netinha nos visita,
então já tenho por hábito, apanhar um envelope, faço um desenho e coloco um
dinheiro no interior do mesmo.
O referido envelope é colocado na primeira gaveta de nossa
penteadeira.
Ela brinca algumas horas, depois olha para mim, faço sinal
de positivo com o dedo polegar, e ela vai correndo abrir a gaveta. De posse do
envelope, abre e sai correndo em direção de seus pais, mostrando o envelope e o
dinheiro.
Às vezes, ligo para minha filha, trazer o cofrinho da
netinha, pois estou necessitando de moedas para o devido troco.
Ela chega e já vai mostrando o cofrinho.
Falo: Filha: Separa dez moedas de um real; seis aninhos,
porém, é muito esperta.
Ela separa e eu digo: vou apanhar as dez moedas e trocar por
uma nota de dez, eis aqui.
Ela apanha, porém, não fica muito satisfeita, pois na sua
cabeçinha, deu dez dinheiros e recebeu, apenas, um. Assim é o ser humano, quer
receber, mas, não desembolsar.
O cartão, mesmo sendo um pseudo processo, o ser humano faz
suas aquisições e quita com cartão, dando uma sensação falsa, que ele não
precisou desembolsar nenhum dinheiro, entenderam?
Cristo ensinou o seguinte: encontramos em atos 2035: “Mais
bem-aventurada coisa é dar do que receber”.
O ser humano interpretou ao contrário. (?)
Mostrei o referido cartão para minha família, a qual ficou
com as canjicas arreganhadas de alegria, coisa de louco.
Vou ligar para o bank fone, para o devido desbloqueio do
cartão.
Eles dão 50 opções, para você escolher uma. Depois vendem
seus produtos da maneira de seus interesses, aí vem uma gravação: nossos atendentes
estão todos ocupados, você será atendido dentro de (pausa) um minuto, que na
realidade são cinco minutos.
Aí vem o bacana ou a bacana: fulano de tal, em que posso ser
útil?
- Quero desbloquear o meu cartão de débito que acabei de
receber.
- O senhor já enfiou os quatro dedos no buraco, para
utilizar um?
- O quê?
- O senhor já enfiou os quatro dedos no buraco, para
utilizar um?
- Meu senhor oculto, sou brasileiro, casado, muito bem
casado, com RG, CPF, título de eleitor, fatura da água, luz e telefone, a
segunda, um assalto no bolso do brasileiro, indo pelo mesmo caminho a água,
exijo respeito, OK?
- Se não enfiou os quatro dedos no buraco, tal procedimento
será efetuado em sua agência.
Desejo boa enburacada e passe muito bem.
- Não acredito, não acredito!
- O que foi?
- Mulher do céu, ou melhor, da terra, fui desbloquear o meu
cartão de débito, via fone, o cara informou-me que terei que ir à minha
agência, enfiar quatro dedos no buraco e depois utilizar, apenas, um.
- O cara falou assim?
- Pausadamente, e com letras garrafais.
Irei até a minha agência, porém, levarei um vidrinho com álcool
e um pedaço de algodão, afinal de contas não se sabe o que me espera!
Deixarei as fichas de senhas com você, sendo que já
distribuir 100 fichas.
O quê foi? Algum problema?
Sonhar não é pecado, o quê jacaré?
Estou chegando perto da porta giratória, já tem um cara lá
dentro que, mais um pouco o cara ficará pelado; tudo bem, tudo bem, liberaram o
candango.
Passei pela porta.
Bom dia seu guarda!
- Bom dia!
- Ainda bem que tem um atendente dos caixas eletrônicos
dando sopa.
Bom dia!
- Bom dia!
- Desejo desbloquear o meu cartão de débito e, necessito de
sua ajuda!
- O senhor já enfiou os quatro dedos no buraco, para utilizar
um?
- Não! Não enfiei dedo em buraco nenhum!
- Então, tal operação será realizada na boca do caixa, eis a
sua senha, é só aguardar.
- Peguei a senha 59, não podendo apanhar duas, pois foi o
atendente que me ofereceu à dita.
Notei três numerações distintas, uma começando com 200,
outra com 100, e finalmente com 50.
Conclusão: da maior para menor: normais, pés nas covas, e
joelhos nas covas, o meu caso.
Um quadro como eu gosto, cheio de gentes.
Notei um senhor um tanto isolado, pensei: sentarei perto do
cara e tentarei fisgar algo em torno dos dedos no buraco.
Bom dia!
- Bom dia!
- Veio pagar ou depositar.
- Depositar, e o senhor?
- Nem uma coisa nem outra, apenas, enfiar os quatro dedos no
buraco, para depois utilizar um.
- O senhor já foi emburacado ou não?
- Sai de mim jacaré, não sou aeroporto, vai baixar noutro
centro, vou me mandar.
- O candango é bastante arisco.
Chegou a minha vez.
Já estou no caixa.
Bom dia!
- bom dia!
Eu tenho que pagar uma duplicata de alto valor, porém, antes
gostaria de desbloquear o meu cartão.
- O senhor já enfiou os quatro dedos no buraco, para utilizar
um?
- Não, não achei, ainda, o buraco da vez.
- Maria! Chama o gerente.
- Pois não!
- Atenda o cara aí, explica o caso do buraco.
- Pois não, Paes à sua disposição!
- Pois não, filhos com dúvidas.
- Que dúvida?
- Recebi o meu cartão de débito, tentei o desbloqueio, via
telefone, o atendente informou que eu teria que enfiar quatro dedos no buraco e
depois utilizar, apenas, um.
Sugeriu-me ir até a minha agência, o que fiz.
Cheguei ao atendente dos caixas eletrônicos, o cara fez a
mesma pergunta, com resposta negativa, enviou-me para o caixa central, aqui
estou.
Que negócio é este de enfiar quatro dedos no buraco, depois,
utilizar apenas um?
- Simples meu caro, muito simples. Nada mais é do que fazer
a biometria, ou seja, copiar suas impressões digitais, dos dedos polegares e
indicadores para melhor funcionamento.
Tempos modernos meu caro, tempos modernos.
Lá no caixa tem uma caixinha com uma saliência, que chamamos
de buraco, a qual captará suas impressões digitais e, após confirmação do
caixa, você estará pronto para movimentar suas contas, eliminando a sua senha.
Você fornecerá quatro digitais, ,porém, na operação
bancária, pedirão, apenas uma, podendo ser qualquer das digitais registradas.
Então o famigerado buraco, nada mais é do que a saliência?
- Dito e feito.
Este processo se chama biometria,
- Ela falou-me que o senhor está com uma duplicata de alto
valor, inclusive com o dinheiro distribuído em seis bolsos?
- Sim senhor.
- Posso verificar a duplicata?
- Eis.
- R$ 121,15, é este o valor?
- Sim senhor.
- Dentro deste valor, o senhor quitará a mesma no caixa,
porém, após ser emburacado.
Passe muito bem e boa emburacada.
- Já estou no caixa.
- Entendeu a operação Mané?
- Entendi maná.
- Coloque o polegar da mão direita no buraco.
Nossa que impressão feia, você machucou o tal dedo?
- Sim, numa impressora de meu tio, liguei uma máquina por
conta própria, para sanar a curiosidade, esqueci o dedo e imprimir o mesmo com
o papel.
Agora a feiura é um pouco o reflexo de seu rosto.
- Outro dedo e assim por diante.
- Tudo realizado, passei pelo atendente dos caixas
eletrônicos e o mesmo perguntou-me:
- Foi fácil a emburacação?
- Sai de mim jacaré.
Cheguei a casa e a mulher já foi perguntando:
- Resolveu o problema?
- Fácil mulher, muito fácil, nada mais do que recolher às
impressões digitais.
Ufa.
Abraços do
Catarina Paranaense – longe de buraco.