Traição = tentáculo e veneno do capeta.
Cada vez que ouço esta palavra, o meu sangue ferve e eu fico
exaltado e revoltado.
Graças a este veneno diabólico, tive que interromper uma carreira
profissional brilhante, devido à pressão de uma corja de urubus, que não tendo
capacidade de me acompanhar, profissionalmente falando, apelaram para o veneno
do capeta.
- Ficou com medo de encará-los?
Todo ser humano tem uma dose de medo, porém, a diferença
entre o medroso e o corajoso, é que o primeiro é dominado pelo medo, enquanto
que o segundo domina o medo, o meu caso.
Não tem como enfrentá-los, haja vista, que eles trabalham na
penumbra, na calada da noite e pelas costas. São covardes demais para enfrentar
cara a cara.
A pressão foi tão intensa que, após 15 anos de sucesso,
apanhei o meu paletó e tirei o time, um tremendo erro de estratégia que pagarei
para sempre, infelizmente.
A dose do veneno diabólico foi tão intensa, que um deles,
após minha demissão, veio à minha casa, perguntar para meus entes queridos, se
eu, ainda, estava desempregado.
Diante do sim, saiu dando risada.
Este energúmeno soltou tal veneno pelo seguinte motivo:
Entrei para ser seu auxiliar, o qual, sempre me tratou muito mal, tentando me
prejudicar a todo custo. Mas, no fechar da roda, ele passou a ser meu
subordinado, sem qualquer culpa de minha parte. O que pesou foi à avaliação,
por partes de nossos superiores.
Peço desculpa pelo desabafo.
Não me lembro de se já registrei tal caso, contudo, caso
positivo, vale a pena registrar novamente.
Vamos juntos:
Na fazenda do Miari, no interior do Maranhão, achava-se
escondido Manuel Bequimão. Ninguém sabia da sua presença naquele sítio. Ele
chefiara uma rebelião contra o governo português. E, uma noite de 1684, atacara
S. Luís, prendera o governador interino, expulsara as autoridades civis e
militares e organizara uma junta para dirigir o Maranhão.
Informado dos acontecimentos, Gomes Freire de Andrade, à
frente de um grande contingente de soldados, viera a toda pressa e derrotaria
os revolucionários. Agora, andava a procura dos cabeças do movimento para puni-los.
Mas não conseguira descobrir o paradeiro do seu principal chefe.
Bequimão tinha um afilhado chamado Lázaro de Melo.
Fora criado em sua casa como um filho querido. Mas o rapaz
era ambicioso e desleal. Seu maior desejo era obter a patente de capitão da
Companhia das Ordenanças. E, para isso, resolveu sacrificar o seu pai adotivo.
Dirigiu-se, então, para a fazenda do Miari, em companhia de
um grupo de escravos. Lá chegando, mandou que os negros se escondessem no mato
e aproximou-se da porta da casa. Seus passos alertaram os homens que estavam de
sentinela. Saíram de armas em punho. Mas, Lázaro, com ar humilde, perguntou:
- Meu padrinho está?
- Não! Foi à resposta dos guardas.
Dentro de casa, Bequimão ouviu a voz familiar. Era o seu
querido afilhado. Nada havia a temer. Mandou que os guardas se retirassem e
saiu para abraçar Lázaro. Mas, por cautela, trouxe engatilhado, o bacamarte.
- Pode deixar a arma, padrinho, disse o traidor. Seria o
cúmulo se o senhor tivesse receio do seu afilhado.
O velho sorriu e jogou a arma no chão. Nesse momento, Lázaro
fez um sinal e os escravos caíram em cima de Bequimão.
Amarraram-lhe os braços e as pernas. Sem poder reagir, ele
foi conduzido até S. Luís e entregue a Gomes de Andrade.
O governador ficou espantando quando viu o chefe dos
rebeldes, preso pelo próprio afilhado. E não pode esconder um gesto de
repugnância diante de tamanha vileza. Mas recebeu o prisioneiro, que foi
julgado e condenado a forca.
No dia da execução, o chefe traído subiu serenamente o
cadafalso. E no momento de ser executado, disse com voz firme e clara: Morro
contente, pelo povo do Maranhão!
Apesar de enojado com a conduta indigna de Lázaro,
concedeu-lhe a patente de capitão da Companhia das Ordenanças. Mas de nada lhe
valeu o posto. Não houve um único soldado que quisesse servir sob as ordens do
infante traidor.
A conclusão fica por sua conta, diante da atuação deste
excremento diabólico.
Abraços do
Catarina Paranaense.
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