sexta-feira, 5 de agosto de 2011

"O BURACO NEGRO."


A minha casa tem um elo entre a cozinha e às demais dependências.
Trata-se, na realidade, de um corredor de 2,50m x 3,50m.
Este corredor apresenta uma curiosidade interessante, um buraco negro; é isto mesmo, um buraco negro.
Semana PP, a minha filha olhou para o buraco negro e fitou os olhos em mim e lascou: paaaaaaai! Quando eu era criança, já existia este buraco negro, agora, já tenho uma filhinha e este buraco negro continua ali; o senhor não vai tapá-lo não?
Fiquei um tanto chocado com a colocação da minha filha; pois não se trata de um simples buraco negro. O mesmo já faz parte da família e tem atravessado gerações.
Este buraco negro, às vezes chora esporadicamente solta gotas d’água; às vezes fica ressequido, precisando de laxante e por aí vai.
Quando você entra na minha cozinha, você dá de cara com uma mesa. Nesta mesa fazemos nossas refeições, choramos às mágoas e damos risadas.
Aproveito a referida mesa para fazer o meu balanço financeiro do mês.
Quando termino o levantamento financeiro, observamos uma verdadeira pintura, pois a cor e os números em vermelho são salientes. De tanto calcular e fazer balanço familiar, em cima deste mesa, tornei-me um técnico em administração do passivo.
Certo dia, recebemos visita, e junto com a mesma, veio um conhecido da visita, um bicão.
Você entrando na cozinha, caso ocupe o lado esquerdo da mesa, você dá de cara com o buraco negro.
Através das reações dos músculos da face, você consegue ler os pensamentos de quem fita o dito buraco negro. Algumas leituras possíveis:
1 – Nossa! Um buraco negro no forro da casa, que vergonha? Se fosse à minha casa eu já teria mandado tapá-lo.
2 – Que relaxo? Uma pouca vergonha!
3 – Qual a finalidade deste buraco negro? Gente sem capricho; e por aí vai...
Voltando ao caso do bicão, que veio junto com a nossa visita, o mesmo sentou-se no lado esquerdo da mesa.
Primeiramente, antes do café, aquele velho papo demagógico: como vocês estão conservados! Que família bonita e unida! Que casa bem arejada, gostosa!
E você, sabedor da demagogia, agradece: obrigado, muito obrigado, a família e o buraco negro agradecem sinceramente.
Hora de encher a barriga. O bicão apanhou um caneco, ou melhor, uma tigela. A metade da jarra do café já foi para cucuia; entretanto, quando o mesmo levantou a tigela para saborear o café, botou os olhos no buraco negro e foi acometido por um poder de concentração inexplicável; pois ficou estático, mexendo, apenas, às mãos, a boca e o nariz; um movimento mecânico. A concentração foi tamanha, que o mesmo começou a tomar o café pelas narinas.
Fiquei preocupado, pois, o cara poderia ser acometido por um engasgamento nasal (este termo faz qualquer professor da língua portuguesa se mexer no túmulo).
Nasal é modo de se expressar, pois, o nariz do bicão assemelhava-se a uma bata doce roxa; imagine uma batatona.
De tanto o bicão colocar o café nas narinas, o nasal passou por uma metamorfose, ou seja, passou de batata doce roxa para uma pitanga avermelhada.
Como eu sou um cara prevenido e precavido, apanhei a minha régua siliconada e consegui introduzir na asa da xícara; uma pausa: xícara é com “x”? Vamos ao dicionário, pimba, pimba e pimba, achei! Eis o que diz: “geralmente se escreve com “g”, porém, sempre foi com “s”. Não ajudou absolutamente nada, deixa para lá.
Voltando a situação do bicão, introduzir a régua na asa da xícara e consegui conduzir a tigela na sua cavidade bucal, um meio do cara não morrer engasgado.
Pense num jogo de sinuca, você querendo acertar a bola sete na caçapa; m/m o que eu estava tentando fazer.
Falei em cavidade bucal, caçapa, entretanto, para ter noção da boca do bicão, pense numa gamela, isto mesmo, uma gamela; ou você não sabe o que é uma gamela? Você nunca morou no mato? No sítio? Então pesquise o que é uma gamela.
Consegui realizar o meu objetivo; o bicão esvaziou a tigela do café
Por mais uns minutos, o mesmo ficou fito no buraco negro, mas, após alguns minutos, o mesmo ameaçou um espirro. Como é do conhecimento dos senhores, quando o ser humano espirra, antes ele abre a boca, para depois soltar o atchim. Quando o bicão abriu a gamela, eu me senti na frente de um jacaré, com a boca 100% aberta, querendo dar o bote na sua presa.
O atchim do bicão soltou-se; a farofa das chineques, aquele docinho que você coloca na mesa, quando da presença de visita, para enganar a torcida, evaporou-se, ou melhor, misturou-se com a manteiga, para não dizer margarina, mais o mel de abelha ou glicose de milho, também, para enganar, e tudo virou uma massa, que serviu para chapiscar a parede da minha cozinha.
O cabelo da mulherada ficou que nem uma pasta com diversas moldagens; uns cabelos ficaram retos que nem uma tábua, outros encaracolados e alguns parecidos com uma alma penada.
Após o furacão o bicão acordou-se da concentração, e pediu mil desculpas pelo ocorrido.
Para quebrar o gelo, desculpei-o, deixando a vontade para espirrar novamente, desde que não abocanhasse os meus móveis, utensílios, bens duráveis e alimentícios; resumindo: preservasse os bens do ativo imobilizado e mobilizado.
Encerrado o papo demagógico, todos se despediram e se mandaram.
Após rasgar o verbo quanto à visita; epa, brincadeira, aqui em nossa casa não procedemos desta maneira; que Deus me perdoe; fiquei pensando com os meus botões; um minuto, quero inspecionar se realmente tenho botões. Tenho sim botões meia boca, mas tenho.
Quem é este bicão? Um astrônomo, um cientista da NASA, querendo abocanhar o meu buraco negro? Esse cara será um espião?
A minha filha não terá razão em tapar o buraco negro?
Tapar o buraco negro, substituir o forro paulista; aquele teto vai perder a graça, todo liso, pintado com tinta esmalte brilhante; não entendo por que gosto tanto de brilho?
Não tendo o buraco negro, às visitas comerão muito mais, pois, não terão para onde olhar.
Descobri mais uma vantagem do buraco negro, contribui para a economia da família.
Enfim, eis a dúvida.
Posso, também, recortar a tábua que contém o buraco negro e colocar numa moldura e pendurar no próprio corredor, com alguns títulos sugestivos, tais como:
1 – A falência do buraco negro.
2 -  O fim do buraco negro.
3 – A amargura do buraco negro.
4 – Aqui jaz o buraco negro, familiar e que atravessou gerações.
5 – Outros mais.
Pensarei seriamente no assunto, quanto à sugestão de minha filha,
Atchim, atchim, atchim. Um minuto, escutaram um espirro? Será do senhor gamela que voltou? Verificarei! Não, alarme falso, foi o Pitico no Botico, o gato que espirrou, por sinal, outro bicão.
Já contei a história deste gato, com o título: “Pitico no Botico”, no talentosdamaturidade.com.br/vanico – vai lá.
E o parecer da família, quanto o buraco negro, heim?
Minha filha já sugeriu tapar o buraco negro.
Meu filho que mora em Curitiba, prometeu para minha esposa, que vai trocar a tábua que está cravado o buraco negro, e fim de papo.
Meu filho que mora em Florianópolis, passa pelo buraco negro, solta aquele olhar patriota.
Você sabe o que é um olhar patriota? É aquele olhar rápido, um flash. Você pergunta para o mesmo: você viu tal coisa? Não, sabe que nem observei. Papo furado, viu, observou, fotografou e gravou.
A esposa se reveste de uma indignação absoluta, tendo como resposta o mais profundo silêncio.
E às noras e genro? Embarcam num silêncio tenebroso, fazendo tremer até o pobre do buraco negro.
Semana PV, faremos uma reunião, inclusive com ata, para traçar o destino do buraco negro.
De tanto bicão que aparece aqui em casa, estou pensando seriamente em fundar a “Associação de Bicologia do Paraná. – ABP.”

Abraços do Catarina Paranaense – futuro presidente da “ABP.”
Atchim – Atchim – Atchim – sai de mim jacaré.

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